Esta frase, que é um porre, faz parte de nossas vidas.

Quando nascemos alguém nos banha, nos veste, nos alimenta, nos embala e não temos nenhuma preocupação e só seguimos os nossos instintos: mamando e arrotando.

Com o tempo passamos a ter algumas responsabilidades.

Não nos lembramos quando foi, mas um dia começamos a ter que nos preocupar em ir ao banheiro porque não nos dariam mais fraldas e passamos a acumular uma série de eu tenho que...

Após este vieram outros tantos, eu tenho que..., como por exemplo, escovar os dentes, cortar o bife, estudar e um sem número de outras responsabilidades que fomos incorporando, inicialmente questionando-as, mas depois aceitando-as.

Ocorre que a partir de um certo dia, nós mesmos, sem que ninguém nos obrigasse entramos no jogo e começamos a falar eu tenho que… : comprar uma calça de grife, ir na balada onde todo mundo vai, trocar de celular ou de carro, etc e como para fazer isto precisava de dinheiro dissemos: eu tenho que…… trabalhar.

E a massa do eu tenho que… nunca mais parou de crescer.

A vida segue e caso tenhamos filhos teremos que educá-los e será bastante conveniente que os eduquemos para as suas vidas, porque senão vamos ter que cuidar deles para o resto de nossas vidas.

E como podemos nos livrar deste volume destes tenho que não param de crescer?

Creio que para abrandar esta “praga” temos duas alternativas e comecei a pensar nisto quando tinha uns 40 anos:

1 – Lazer

Através de algum lazer feito com total desprendimento como tocar um instrumento, ler, cuidar de um jardim, etc., desde que ninguém o cobre para que faça ou não tais atividades, nem a sua mãe que te pôs na aula de piano que ela adoraria tocar e nem de seu pai que o incentivou a jogar tênis porque senão vai ouvir:

“Juquinha você tem que estudar piano” ou “Chiquinho hoje você

tem que jogar tênis” e confesso que demorei a encontrar coisas que me trouxessem este alívio e foram o teatro (1996), escrever textos (2003) e cozinhar (2004). Nestas atividades eliminei totalmente o tenho que e só as faço sem me fazer a menor cobrança.

2 – Eliminando hábitos de consumo

Comecei aos 40 anos quando um dia cheguei em casa, dei meu  relógio para minha mulher lhe dizendo que doasse para alguém pois eu não tinha mais que de usa-lo. Ela perguntou o “porque” e lhe falei que eu já tinha a hora no relógio do carro, no da parede da sala, no micro-ondas, etc. Depois que fiz isto eu nunca mais esqueci de colocá-lo ao sair de casa, não precisei me preocupar em trocar a sua pilha (naquela época tinham pilha!), não corri o  risco de vê-lo roubado, nunca mais precisei troca-lo por um modelo mais moderno e nem consertá-lo se quebrasse e sempre fui muito sendo pontual. Depois disto reduzi diversos outros hábitos de consumo sempre na busca de eliminar alguns tenho que…

Ocorre que os tenho que… não param de entrar em nossas vidas.

Há 12 anos para usar o computador passei a ter que…….. usar óculos e há uns 8 anos a ter que…….. tomar remédios, ou seja, eu tento eliminar, mas os tenho que…… parecem não ter fim!

A proposito “eu tenho que entregar o IR até o dia 30 de abril!

O que me alivia é que sei que não terei que carregar o meu caixão e nem terei que me enterrar!

Bicudo

José Carlos Bicudo
Engenheiro – 69 anos
Colaborador e colunista da TIC.
É apaixonado por teatro e cozinha.
Tem como hobby escrever textos sobre o cotidiano e pequenos contos.