Tatuapé, “caminho do tatu” em tupi-guarani, é um distrito que faz parte da subprefeitura da Mooca, no município de São Paulo. O bairro começou em 1560, ano em que Brás Cubas, fundador de Santos, subiu a Serra do Mar em busca de ouro.
Houve uma linha de bonde que atravessou o Tatuapé ao meio, por volta de 1875. Ao norte dos trilhos apareceram fábricas e vilas operárias seguindo o movimento de industrialização que mudou a cara de São Paulo. Ao sul da ferrovia ficaram chácaras antigas onde, nas várzeas do Rio Tietê e do Córrego Tatuapé, eram cultivadas videiras.
Conheci o Tatuapé, muitos anos atrás, através de uma menina linda, que veio estudar no Sion. Quando ela chegou, fiquei encantada: ela linda e tinha um cabelo loiro que caía como uma cascata pelos ombros! Ela vinha do Tatuapé, mas sua família havia decidido vir morar do lado de cá. O tempo passou, nos formamos vivemos nossas vidas, casamos, tivemos filhos, separamos e assim a coisa foi indo.
Soube, depois de 40 anos de formada que, quando ela chegou ao colégio, se sentiu constrangida, afinal ela vinha da Zona Leste! Imagine, Lu, você? Essa lindeza toda?
O Tatuapé, era um bairro do outro lado do rio, onde o comércio, a indústria, enfim, as atividades familiares e comerciais eram simples. Havia, porém, grandes indústrias. Basicamente, a sociedade era formada por imigrantes recentes, muitos portugueses que eram feirantes, mecânicos, pequenos comerciantes, donos de padarias deliciosas!
E foram três filhas da terra que me mostraram esse bairro de novo. Há um tempo, resolvi ter aulas de Português, e na sala da professora Fátima, conheci três Fátimas. Que coincidência! Elas protestaram: “Ah! Coincidência nada, somos todas filhas de portugueses!”. Lembrei-me delas, quando estive em Portugal, no Santuário de Fátima, pois!
Não só elas eram filhas de portugueses, como moravam no Tatuapé!
Só que dessa vez, vi um Tatuapé muito diferente daquele que eu ouvia falar. Este era pujante, com cada prédio imenso, vários! Há comércio de rua, tudo bem movimentado, parques lindos, alguns que se chamam parques, mas têm muita construção no meio das árvores. A Praça Silvio Romero, apesar de ser a mais conhecida, tem uma igreja enorme, bem no meio dela. Praça é lugar para relaxar, se divertir e essa há tempos era como se fosse de uma cidadezinha do interior, onde a vida se movimentava. Seu nome homenageia um crítico literário, poeta, pesquisador de folclore e filósofo.
Tem um shopping bem chique, prédios imensos, numa área que se chama Anália Franco.
Anália Franco foi uma mulher extraordinária, desde mocinha. Sua vida foi voltada às pessoas mais humildes e necessitadas. Trabalhava sem descanso, sem deixar que as dificuldades a desanimassem. Era poetisa, jornalista No fim da vida, deixou 71 escolas, 23 asilos para órfãos e mais muitas outras instituições Sua fazenda, de 70 alqueires, abrigava várias dessas casas.
Muitas mudanças foram acontecendo no bairro e muitas vezes isso quer dizer demolições e construções. Onde havia uma antiga fábrica, na Rua Serra do Japi, foi construído o teatro Fernando Torres, bem moderno. Há uma EMEI, Escola Municipal de Educação Infantil, foi construída, onde antes havia uma igreja
E o dia em que eu fui com as minhas netas e uma amiga a um circo na Radial Leste? Estava indo tudo super bem, quando a trapezista, enrolada em tiras de tecido, caiu de lá de cima! Altíssimo! E ficou caída, desmaiada, não se mexia! Sabe a sensação que a gente tem quando vê em livro policial “…e o tempo parou?” Foi isso. Ficamos esperando alguma coisa acontecer. Aí chegaram os bombeiros e o Samu. Embrulharam a moça em papel alumínio, puseram numa maca e a levaram embora. Nisso, ela levantou o braço e acenou. O circo veio abaixo! Graças a Deus!
Quando tudo acabou, peguei as meninas e fomos ao Bologna tomar um belo sorvete, com calda e tudo. Afinal, precisávamos de um refresco! Alguns dias depois eu escrevi para eles perguntando da moça, e eles disseram que ela estava bem, e nos ofereceram ingressos para assistirmos ao espetáculo outra vez! Só que não!
Agora, como tudo que vai bem e dá aquela alegria de viver, Os Acadêmicos do Tatuapé, se superou: emplacou o 1º lugar do Concurso das Escolas de Samba do carnaval de São Paulo de 2017!
Parabéns, Tatuapé!
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Renata Oliva
Blogueira
Quase Pedagógico