Tipos de dívidas que pessoas idosas podem renegociar de acordo com a lei
Envelhecer com dignidade é um direito de todos, inclusive quando se trata de manter a saúde financeira em ordem. No entanto, muitos idosos enfrentam dificuldades com dívidas acumuladas; especialmente de cartão de crédito, contas básicas de consumo, empréstimos e financiamentos, e contratos com instituições financeiras.
Felizmente, a lei do superendividamento, em vigor desde 2021, trouxe novas garantias para quem está nessa situação. Ela foi pensada para proteger consumidores vulneráveis, como os idosos, oferecendo ferramentas para renegociar dívidas e recomeçar com mais segurança.
Entenda o que é a lei do superendividamento
A lei do superendividamento (Lei 14.181/2021) é uma alteração no Código de Defesa do Consumidor que permite ao cidadão renegociar suas dívidas de forma judicial ou extrajudicial, respeitando sua capacidade de pagamento e preservando o mínimo necessário para viver com dignidade.
Essa legislação se aplica especialmente a quem, mesmo com vontade de pagar, não consegue arcar com suas dívidas básicas — uma realidade comum entre aposentados e pensionistas que enfrentam dificuldades para manter em dia o cartão de crédito, contas básicas de consumo, empréstimos e financiamentos ou contratos com instituições financeiras.
O objetivo não é simplesmente quitar tudo de uma vez, mas criar uma renegociação justa, com parcelas possíveis, evitando a perda total do controle financeiro.
Cartão de crédito: o vilão silencioso dos aposentados
Muitos idosos usam o cartão de crédito como um recurso emergencial, especialmente quando a aposentadoria ou pensão não cobre todas as despesas do mês. No entanto, os juros altos e o uso rotativo podem transformar essa solução em um pesadelo.
Com a lei do superendividamento, dívidas de cartão de crédito podem ser renegociadas em um plano judicial que considere sua renda mensal e permita um pagamento justo, sem abusos ou juros impagáveis.
Dica prática:
- Evite pagar apenas o mínimo da fatura. Isso prolonga a dívida e aumenta os encargos.
- Se possível, peça ajuda de alguém de confiança para organizar as faturas e entender exatamente o que foi comprado.
- Em caso de cobrança abusiva, procure o Procon ou um defensor público.
Contas básicas de consumo também entram na renegociação
Você sabia que contas de luz, água, gás e telefone também são consideradas na lei do superendividamento? Isso significa que, se você estiver em uma situação de endividamento que compromete até mesmo o pagamento dessas contas essenciais, elas podem ser incluídas no plano de renegociação.
Esse é um ponto essencial para os idosos, que muitas vezes se veem obrigados a escolher entre pagar uma conta ou comprar medicamentos, por exemplo.
Como renegociar:
- Entre em contato com a empresa responsável e solicite o parcelamento da dívida.
- Leve documentos que comprovem sua situação (extrato do INSS, despesas fixas, medicamentos).
- Se o acordo for injusto ou impagável, o caminho judicial é uma opção segura.
Empréstimos e financiamentos que pesam no orçamento
Com a facilidade de acesso a empréstimos e financiamentos, especialmente os consignados, muitos idosos se viram endividados com parcelas que comprometem boa parte da renda mensal. Apesar de parecerem vantajosos, esses produtos financeiros podem se acumular e fugir do controle.
A lei do superendividamento também contempla esses casos. É possível incluir esses débitos em um plano de pagamento, reduzindo o valor das parcelas e ampliando o prazo.
Pontos de atenção:
- Evite fazer novos empréstimos para pagar dívidas antigas.
- Compare as taxas de juros e veja se há outras opções menos abusivas.
- Guarde cópias dos contratos e não assine nada sem ler com calma.

Contratos com instituições financeiras: atenção redobrada
Os contratos com instituições financeiras, como bancos e financeiras, envolvem uma série de produtos: cartão de crédito, cheque especial, crédito pessoal, seguros, entre outros. Muitos idosos assinam esses contratos sem compreender totalmente as cláusulas ou sem orientação adequada.
Por isso, um dos pontos centrais da lei do superendividamento é justamente a educação financeira e a transparência nos contratos, garantindo que o consumidor seja informado de forma clara e honesta.
Caso você tenha contratos mal explicados ou abusivos, é possível pedir a revisão judicial desses acordos e renegociar os valores de forma mais justa.
Como solicitar a renegociação com base na lei do superendividamento
Se você percebe que suas dívidas estão tomando conta da sua vida, o primeiro passo é se organizar. Anote tudo: renda, despesas fixas, valor das dívidas, juros, prazos. Com essas informações em mãos, você pode:
Tentar uma renegociação extrajudicial:
- Envie uma proposta às empresas com um valor que realmente possa pagar.
- Mostre seu comprometimento e sua limitação financeira.
- Faça tudo por escrito e guarde os comprovantes.
Buscar auxílio no Procon ou na Defensoria Pública:
- Esses órgãos ajudam a mediar o acordo com os credores.
- Você será orientado sobre seus direitos e os caminhos legais.
Ingressar com um pedido judicial:
- Nesse caso, será elaborado um plano de pagamento que envolva todos os credores.
- O juiz pode impor condições mais equilibradas e suspender temporariamente as cobranças.
Direitos garantidos pela lei do superendividamento
A legislação protege o idoso em situação de superendividamento com base nos seguintes princípios:
- Respeito à dignidade da pessoa humana
- Proteção ao mínimo existencial
- Garantia de informação clara e adequada
- Vedação de práticas abusivas de crédito
- Incentivo à renegociação e conciliação
Você não é obrigado a aceitar propostas que comprometam sua sobrevivência. A prioridade é a preservação da sua saúde, moradia, alimentação e bem-estar.
Dicas práticas para evitar novos endividamentos
Mesmo com a possibilidade de renegociação, é importante cultivar hábitos financeiros mais saudáveis. Aqui vão algumas sugestões simples e eficazes:
- Planeje seus gastos mensais. Use um caderno, aplicativo ou planilha.
- Evite empréstimos por impulso. Avalie se é realmente necessário.
- Priorize o pagamento à vista. Isso evita juros e parcelamentos que se acumulam.
- Converse com sua família. Eles podem ajudar a encontrar soluções sem recorrer ao crédito.
- Aprenda sobre educação financeira. Muitos cursos gratuitos estão disponíveis online ou em ONGs locais.
Onde buscar ajuda confiável
Se você está se sentindo perdido com tantas dívidas, não hesite em buscar ajuda especializada. Confira alguns canais úteis:
- Procon Brasil
- Defensoria Pública
- Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
- ONGs locais e grupos de apoio para idosos
Essas instituições oferecem atendimento gratuito ou de baixo custo e podem orientar desde a análise das dívidas até o acompanhamento de processos judiciais.
É possível recomeçar
Enfrentar dívidas não é motivo de vergonha. Todos nós estamos sujeitos a imprevistos e decisões mal informadas. O que importa é buscar caminhos possíveis para sair do sufoco e garantir sua tranquilidade e autonomia financeira.
A lei do superendividamento é uma aliada poderosa para quem precisa reorganizar a vida financeira sem abrir mão da dignidade. Com paciência, informação e apoio, é totalmente possível recuperar o equilíbrio — mesmo depois dos 60, 70 ou 80 anos.
Perguntas para você refletir e comentar
- Você já teve dificuldades para pagar suas contas básicas de consumo?
- Sabia que contratos com instituições financeiras podem ser revisados judicialmente?
- Já precisou renegociar empréstimos ou financiamentos que pesaram no seu orçamento?
- O que mais gostaria de saber sobre a lei do superendividamento?
Compartilhe sua experiência nos comentários! Sua história pode ajudar outras pessoas a encontrarem soluções também.
FAQ: dúvidas frequentes sobre a renegociação de dívidas na terceira idade
O que é considerado superendividamento?
É quando a pessoa, mesmo com boa vontade, não consegue pagar suas dívidas sem comprometer despesas básicas como moradia, saúde e alimentação.
A lei do superendividamento vale para qualquer tipo de dívida?
Ela abrange dívidas de consumo, como cartão de crédito, contas básicas, empréstimos e financiamentos com instituições financeiras. Dívidas com garantia (como hipotecas) ou alimentícias (como pensões) não entram.
Tenho vários empréstimos consignados. Posso renegociar?
Sim. Mesmo que já tenham sido descontados da aposentadoria, você pode pedir revisão judicial se o valor estiver comprometendo seu sustento.
Preciso de advogado para pedir renegociação judicial?
Não obrigatoriamente. A Defensoria Pública pode ajudar gratuitamente, especialmente se você tiver renda limitada.
As cobranças param enquanto o processo judicial acontece?
Sim. Durante o andamento do pedido judicial, as cobranças e execuções das dívidas ficam suspensas até a análise do plano.
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