No apartamento do bairro Ipiranga inicia a semana. Alimentos nutrem as horas, circulam pratos caseiros, vitaminas no liquidificador, os dias em fatos, meses em tarefas, certezas.
Na cozinha xícaras de café com leite, pão de minuto, bolinho de chuva, arroz doce. Na cesta de frutas: o mamão, banana, laranjas.
No alicerce dos temperos, a vida prossegue … o sustento na coragem forra o chão. Na história sentida, voam saberes sensatos, que espalham afazeres, o bom humor.
Encontros colorem os domingos no almoço; um canário se aproxima, um sabiá beija-flor.
A família tropa avança na realização de sonhos, topa com pedregulhos, cai em buracos, tropeça nas pedras, se apruma, se ajeita, e segue. Chegam raios, tempestades; e generosas águas, que balançam a vivência.
No transbordar do rio, a luta os aproxima, na direção das corredeiras.
A saúde no foco da homeopatia: são os remédios da farmácia caseira. A roupa lavada seca ao sol, engomada como rotina.
A costura em alinhavos, pespontos, seguros.
Ventanias sopram novatas notícias, chega mais um bebê.
Visitas a parentes na cidade de Botucatu, na grande Pardinho, pra matar as saudades, compartilhar novidades, fofocas.
São oito mulheres em falas guerreiras, ouvidos em toques, passam sabores, na resiliência repassam experiências e fatos. Oito homens na batalha do pão de cada dia, trocas parceiras: acertos, erros, histórias. Conversas em todas as cores, formatos, sorrisos; o choro entre abraços, a rotina; nas viagens possíveis; na reza, o terço no criado mudo; e a terra gira… gira… gira…
Férias nas areias das praias; pulos nas ondas, a escuta nos mantras.
Em cada máquina há fotos do Clubinho. Comovida paisagem exala sonolência, revê o sereno na varanda, arvores nos quintais, pomares, livros, viagens e aconchego, acompanham as cenas.
Um cotidiano cheio de crianças e jovens. Ao redor proezas, fala poética, sentimentos; as tristezas nas cinzas da fogueira, o sagrado. Varre-se a poluição das ruas, avenidas; na luneta a visão das estrelas, o cruzeiro do sul. Trocam os reveses em sorrisos pra lua.
Assim… as imagens esculpidas na infância… somadas as vivencias bordadas na juventude… Na maturidade transformam-se em calmante.
Gostou? Confira também: Crônicas de Laura Helena Sodré
Laura Helena Sodré
Psicóloga, Professora, Poeta e Vovó
- Publicação:
2023 Versos ao Sabor do Tempo - Participações nas Antologias:
Novas Vozes da Poesia Brasileira 2024
Por Trás das Pinceladas 2024 - 2 Livros Infantis (solo e coautoria) 1990 e 1991
- 1 Livro Técnico (Recursos Humanos) 1989