por Loredana De Stauber
Élisabeth Roudinesco
O Inconsciente Explicado ao Meu Neto (como pode ser entendido por um estudante brasileiro)
“se as histórias não me contemplam, não me atraem” Folha de São Paulo 20/11/2023
Éditions du Seuil, Outubro de 2015
Tradução Edição UNESP 2019
Neste livro, em pouco mais de cem páginas, Elisabeth responde às perguntas de seu neto adolescente sobre o inconsciente. O diálogo entre neto e avó inicia em modo simples e se aprofunda aos poucos. O rapaz é inteligente, estudioso gosta de entender e apreender com os esclarecimentos da avó psicanalista. Mora na Europa, em Paris.
Neste livro se fala muito de culturas estrangeiras e antigas, de história, mitos, lendas, poesia, filosofia, artes, etc., não muito conhecidas aqui.
É um mundo desconhecido pela maioria dos estudantes brasileiros e poderia afastá-los da leitura.
Mas existem muitas culturas e mundos diferentes que talvez possam dialogar entre si, tornando a leitura interessante.
O neto de Élisabeth estuda a cultura de seu país, a que chamamos clássica.
Uma cultura antiga, que, embora tenha mudado com o passar do tempo, mantém a essência, por exemplo, a indagação filosófica sobre a vida e a alma.
A escritora cita Descartes, mas não faltam outros nomes importantes, como Spinoza, Leipzig, e outros que podem nos ajudar a entender.
Um estudante brasileiro poderia perguntar: e a nossa cultura?
Os indígenas da Amazônia têm uma cultura muito antiga com a qual os primeiros viajantes entraram em contato e relataram ter encontrado cidades e estradas que uniam vários povoados. Ninguém acreditou nisso. Agora, porém, com a nova tecnologia aparecem restos destas cidades e nós sabemos que os indígenas da Amazônia sempre viveram, por milhares de anos, em contato com a natureza, preservando a floresta, e nela a vida ao influenciar o regime das chuvas, e o clima.
É um outro mundo, dos muitos da terra em que vivemos, que podem dialogar entre si, o que tornaria a leitura mais interessante para estes garotos.
No início Élisabeth compara o inconsciente a um iceberg, montanha de gelo que, nos mares do norte, tem uma parte submersa muito maior daquela que se vê. Não vemos todo o iceberg, e nem todo o inconsciente que sentimos em nós.
O exemplo que a avó apresenta ao garoto, para que entenda melhor é o de um barco sem leme, sem vela, sem motor, sem lugar onde poder se ancorar, e pode ser visto num quadro famoso: A nau dos insensatos, de Hieronymus Bosch, no museu do Louvre, em Paris, onde ela e o neto moram. Assunto do quadro, como do inconsciente, é uma viagem para fora da consciência.
Esta imagem negativa assusta o garoto e o faz pensar.
A avô percebe o sentimento do neto e explica que o contrário pode ser verdadeiro também, lembrando o país feliz das fábulas infantis.
Mas o garoto vai ao ponto que lhe interessa, e pergunta o que é ser insensato? É ser louco? Ser inconsciente é o mesmo que ter um inconsciente?
Responder não é simples, e exige uma longa reflexão, muitas perguntas e explicações. O inconsciente é o duplo da consciência. Para médicos e estudiosos pode ser reconhecido e estudado até chegar a Freud, ao Id, ao Ego, ao Super Ego.
Os médicos classificam vários modos em que o inconsciente aparece nas pessoas, e pode ser reconhecido: a pessoa pode ser alienada, bipolar, esquizoide, etc. Nomes diferentes para realidades parecidas que, em parte, podem ser controladas.
Não é uma leitura fácil, e as perguntas do garoto evidenciam desejo de entender e aprender sempre mais, aos poucos, refletindo antes de novas perguntas.
A avó não quer dar uma aula, quer despertar interesse, ensinar a descobrir o prazer de aprender.
Mais um aceno aos filmes, no início e no fim do livro.
No início, o grande transatlântico Titanic, que dá nome ao filme, afunda ao bater num Iceberg, muitos viajantes afundam com o navio: a protagonista, que desejava ter os cuidados do médico austríaco, encontra no amor o meio de enfrentar medo e insegurança.
O outro filme: A guerra nas estrelas, trata da mítica luta entre o bem e o mal. O bem vence o mal que porém deixa seu sinal; nós temos dentro de nós os dois, e é possível escolher entre eles. Mas não é sempre fácil reconhecer o que é bem, ao perceber o engano, podemos corrigirmos.
Aconselho a leitura deste bonito livro a jovens, e a adultos que, penso, vão gostar dele.
Loredana De Stauber
93 anos