Existem materiais que são incompatíveis e que quando entram em contato geram reações, que não são explosivas, mas que alteram drasticamente suas composições, chegando a dissolver um deles como exemplo: a água e o ferro, o sal e o gelo e a água e o gesso.
Não consigo explicar o “porque”, mas eu tenho isto com relação a fotografia.
Explico.
Em 1966, com 17 anos fui convidado pelo Colégio de São Bento onde eu estudava para morar por três meses numa residência de uma família da Pensilvânia (Latrobe), que tinha filhos estudando no Saint Vincent College, uma escola dos beneditinos nos Estados Unidos. Pensei então em registrar a minha aventura: um menino visitando os Estados Unidos que era uma coisa muito rara naquela época. Boas máquinas fotográficas eram artigo de luxo e poucas pessoas possuíam. Meu pai tinha uma Rolleiflex, a Mercedes das máquinas, a máquina dos profissionais da fotografia! Ele não permitia que ninguém mexesse, mas acabou cedendo. Para utiliza-la era necessário usar um fotômetro e com o número indicado fazer umas contas para ajustar 2 botões para acertar a sua abertura e então bater a foto (ufa!). Meu pai tinha paciência ZERO para ensinar e em menos de uma hora me considerou apto para opera-la. Levei 3 rolos de 48 poses, assim eu teria 144 fotografias. Fui e a minha viagem durou quase quatro meses. Tirei fotos da minha família americana, com meus 10 irmãos, da cidade onde fiquei além de Nova York e Washington. Na volta estava ansioso para mostrar à minha família e aos meus amigos, as pessoas com quem havia convivido bem como os lugares onde havia estado. Face ao elevado número de cópias meu pai me pediu uns dias para que eu providenciasse a revelação das fotos. Uns quinze dias após eu ter chegado ao Brasil ele me autorizou a fazer a revelação. Fui à Fotóptica que ficava na Rua São Bento onde entreguei os 3 rolos e disseram que o serviço estaria pronto dali uns cinco dias. Como já disse não era barato e no dia aprazado saí de casa com todo aquele dinheiro para pagar as cópias e estava ávido para vê-las. Entreguei o comprovante para a atendente. Quando voltou perguntei quanto devia e entregando-me o envelope com todos negativos me informou que eu não devia nada, pois todos estavam queimados!!
Casei-me em 1974 e fui passar a lua de mel nos Estados Unidos e no México. Levamos uma máquina semiautomática que tínhamos ganhado no casamento. Não lembro quantos rolos levamos, mas lembro perfeitamente que as que ela tirou ficaram ótimas e as minhas foram descartadas!!
Em 2007 fui com minha namorada passar uma semana em Santa Catarina. Ela levou a máquina dela cujas fotos ficaram ótimas e eu a minha e eu me recuso a comentar o que ocorreu!!
Hoje tenho um celular com tremenda câmera com XYZ pixels e quando preciso tirar uma foto, não sei o “porque”, mas sempre peço para alguém fazer isto para mim.
José Carlos Bicudo
Engenheiro
Colaborador e colunista da TIC.
É apaixonado por teatro e cozinha.
Tem como hobby escrever textos sobre o cotidiano e pequenos contos.
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