A relutância de muitos idosos em depender de sua família pode ter várias razões, que envolvem aspectos psicológicos, culturais e pessoais. Aqui estão alguns motivos principais:
Perda de independência e desejo de preservar a autonomia
Para muitos idosos, a independência é um valor importante que representa liberdade e dignidade. Dependendo da gravidade de sua condição, o ato de precisar de ajuda para tarefas cotidianas (como se vestir, tomar banho ou se alimentar) pode ser visto como uma perda de controle sobre sua própria vida. Isso pode gerar sentimento de frustração, vergonha ou humilhação, especialmente em uma sociedade que valoriza a autonomia. Mesmo em situações de necessidade de ajuda, muitos idosos buscam manter o controle de sua vida o máximo possível. A dependência pode ser vista como um obstáculo para essa autonomia, e eles podem resistir a mudanças no estilo de vida, como se mudar para uma casa de repouso ou aceitar cuidados em tempo integral.
Medo de ser um fardo e desejo de não sobrecarregar emocionalmente a família
Muitos idosos têm receio de sobrecarregar seus filhos ou outros membros da família. Eles podem se sentir culpados por não conseguirem ser mais autossuficientes ou por não quererem incomodar os outros, especialmente em um contexto onde os filhos têm suas próprias responsabilidades, como trabalho, filhos e outras preocupações. Alguns idosos temem que sua dependência possa gerar estresse emocional para os familiares, especialmente se estes já enfrentam suas próprias dificuldades ou têm vidas complicadas. Eles podem, portanto, resistir a pedir ajuda, preferindo lidar com a situação sozinhos, se possível.
Mudança nas dinâmicas familiares
À medida que envelhecem, alguns idosos podem perceber que a dinâmica familiar está mudando. Seus filhos, por exemplo, podem ter menos tempo ou interesse em cuidar deles, o que pode gerar sentimentos de abandono ou isolamento. Isso pode intensificar o desejo de não depender dos familiares, mesmo que a ajuda seja necessária.
Fatores culturais, estigma e questões de autoestima
Em algumas culturas, o idoso é visto como uma pessoa que deve ser respeitada e que, tradicionalmente, não pede ajuda a outros membros da família. A ideia de depender de um filho ou outro parente pode ser vista como uma falha no papel que o idoso deve desempenhar dentro da família, levando a sentimentos de vergonha ou indignidade. A dependência pode afetar diretamente a autoestima do idoso, que pode sentir que está perdendo valor ou relevância dentro da família e na sociedade. Muitos preferem lutar sozinhos com suas limitações do que mostrar vulnerabilidade, temendo ser vistos de forma diferente.
Resistência à mudança de ambiente
Muitos idosos se sentem mais confortáveis em seus próprios lares e resistem a mudanças que podem vir com a dependência, como mudar-se para um local de cuidados, como uma casa de repouso. A familiaridade e o apego ao lar podem ser uma forma de resistir à sensação de “envelhecer” e à percepção de que estão perdendo o controle sobre sua vida.
Esses fatores podem variar de pessoa para pessoa, mas, em geral, a dependência da família representa um desafio para muitos idosos, que buscam preservar sua dignidade e autonomia, evitando sentir que são um peso para os outros. A chave para lidar com esses sentimentos é proporcionar um ambiente de apoio e compreensão, onde os idosos possam sentir que podem pedir ajuda quando necessário, sem medo de perder sua identidade ou seu valor.
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Marina Platero
Psicóloga
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