O sol já começa a se pôr na Califórnia, marcando o início do outono — uma trégua entre o calor sufocante e o frio que logo chegará. Aqui, as pessoas já começam a reclamar do frio. Não sei se sou diferente, mas tanto o calor quanto o frio pouco me afetam. Sinto-me quase indiferente a essas mudanças. Mudança de clima, de lugar, de pensamento… sempre as aceitei com naturalidade, como uma mutante em constante transformação.
Agora, o sol toca meu rosto como um afago suave da natureza. Meus cães estão ao meu lado, enquanto os gatos vagueiam por aí. É curioso como, se pararmos para pensar, nossa casa funciona como um ecossistema — um lugar onde tudo deveria, em teoria, estar em harmonia. O tempo passa, e esse sol no meu rosto me faz voltar às praias do Brasil, na minha juventude. Naqueles dias, o futuro parecia distante e infinito, e todos ao meu redor estavam vivos, cheios de planos e sonhos.
Hoje, essas lembranças me revelam o quanto o tempo é efêmero. O que antes parecia eterno, agora é limitado. Olho para fotos antigas e percebo que o que um dia foi tão importante perdeu seu peso. Dias incríveis de viagens e conquistas ocupavam o centro das atenções, enquanto o resto do tempo era consumido por preocupações e preparações para planos que, muitas vezes, nunca se realizaram.
Agora, aqui, o sol invade meu rosto sem pedir licença. Mas, diferente de antes, são poucas as coisas que realmente invadem minha alma. Mudo o rumo dos meus pensamentos, fico em silêncio. Sozinha, busco sintonizar uma luz interior — não a luz que o sol me dá, que às vezes cega, mas uma luz íntima, que me ilumina de dentro para fora, trazendo uma paz serena e profunda. O que mais eu poderia desejar?
Rita Barbano
Imagem: Arte de autoria de Rita Barbano